
Texto originalmente escrito para o site Chicken or Pasta
Foi durante o charmoso Carnaval de Veneza, quando foliões do mundo todo desfilam suas fantasias e máscaras na Piazza San Marco, que chegou o anúncio indesejado: primeiro caso de vítima fatal do novo Covid-19 na Lombardia, norte da Itália. Mais de 300 infectados em dois dias. Eis que o vírus mais recente vindo da China se espalha pelo território de forma avassaladora, incontrolável e tão forte que ninguém poderia imaginar a dimensão que a situação poderia chegar.
De repente, o Carnaval foi cancelado, as escolas não voltaram às aulas, cinemas, museus e locais públicos de fácil aglomeração foram fechados pelo decreto do governo. Cidades foram isoladas, partidas de futebol e a final do “Italia’s got Talent” fechados para o público. Eventos internacionais em Milão e Veneza começaram a anunciar o adiamento, como o Salone del Mobile Milano e La Biennale di Venezia. Três semanas depois da primeira morte, ainda com as escolas fechadas, o governo decidiu isolar Veneza, Milão e outras cidades do norte da Itália. Em 48 horas, toda a Itália foi considerada zona de quarentena.

Depois de um primeiro susto, e do ‘efeito manada’ que fez com que rapidamente as prateleiras de supermercados esvaziassem, o medo de ser atingida pelo vírus dá espaço ao incômodo da livre circulação vetada. Entendemos que a taxa de mortalidade entre os infectados é de apenas 3,5% (fonte – World Health Organization). O COVID-19, que já tinha sido decretado uma emergência de saúde pública de relevância internacional pela OMS (Organização Mundial da Saúde), foi elevado à categoria de pandemia. Mas o vírus ainda é pouco conhecido por estudo científico e se propaga muito rápido, e é justamente a contenção da infecção que o governo italiano busca com essa medida de quarentena.
Estar em quarentena, na prática, não significa prisão domiciliar. É permitido circular no limite da sua cidade mantendo a distância de 1 metro entre pessoas desconhecidas. A maioria dos estabelecimentos fecharam suas portas. Mas o impacto da pandemia e dos decretos do governo fazem com que a vida fique em modo “pausa” e muitos sentem imediatamente o resultado econômico. Muitas empresas fecharam para férias coletivas e o medo do futuro próximo torna-se maior que o da contaminação. Isso gera um mal-estar, uma sensação de impotência e ao mesmo tempo uma tentativa de entender o que está acontecendo com o mundo. Não saber se poderei passar o aniversário da minha filha de 19 anos no meio de abril com ela na França, por exemplo, é perturbador. Não ter trabalho nesses dias é muito angustiante. Mas não tem jeito! É hora de ficar em casa, arrumar os armários, fazer as unhas e zerar o Netflix! É exercitar aquele velho ensinamento que não se pode controlar o incontrolável. Essa é uma real situação totalmente fora do nosso controle, que temos que ser confiantes que vai passar que tudo vai ficar bem e que sairemos dessa mais fortes, imunes e unidos!
Estar em Veneza em quarentena faz refletir sobre muitas coisas. A cidade que ferve no turismo de massa está completamente silenciosa, quase deserta e poética! Há algumas décadas que Veneza não é só dos venezianos.


Ao mesmo tempo que as pessoas devem ficar longes uma das outras, existe um sentimento de conexão e parceria. E aí vem aquela coisa linda dos seres humanos que ainda carregam a solidariedade no peito. Em meio aos cartazes com regras a serem cumpridas como novo horário, quantidade de clientes dentro da sorveteria e distância de 1 metro entre as pessoas, um grupo anônimo espalha bilhetinhos escrito “tutto andrá bene” (tudo vai dar certo). É comovente ver as correntes de ajuda a idosos pelas redes sociais para compras no supermercado (sabe-se que os idosos são a faixa etária de maior perigo com a doença). E até uma ação público-privada, que oferece bônus aos cidadãos em zona de quarentena que faz parte de uma corrente de solidariedade digital.


Para os próximos dias que virão, nos resta exercitar a paciência e a fé! Trocamos aquele jargão “use filtro solar” para “lave muito bem as mãos” e seguirmos confiante que tutto andrá bene!
Contexto: A Itália é o segundo país com mais casos confirmados de Coronavírus (COVID-19). O primeiro caso de óbito foi em 22/02/2020 e até o momento são 12.462 contagiados e 827 mortes.
Em detalhes: A partir desse cenário, o governo italiano decretou estado de “zona rossa”, ou seja, quarentena em todo o país buscando conter a situação de emergência epidemiológica. A medida veta qualquer tipo de aglomeração de pessoas em locais públicos, suspende eventos, missas, fecha escolas, academias, comércio, restaurante e bares e aconselha aos cidadãos a não circular sem necessidade.
O é aconselhável fazer nesse momento? Ficar em casa! Lavar as mãos, não tocar os olhos, nariz nem a boca. Desinfetar superfícies com álcool, não aproximar-se de estranhos, não dar as mãos e nem cumprimentar com beijos e abraços.
Enquanto isso, a gente…. corta a grama, faz as unhas, trabalha remotamente, assiste Netflix, ajuda os amigos e família com filhos que trabalham fora, organiza fotos do celular, coloca os hobbies em dia como ler, fazer croche ou pães artesanais….
Para acompanhar em tempo real o alcance do coronavírus, a John Hopkins University criou um mapa interativo.
Vídeo do apresentador de TV italiano sobre condutas com Coronavírus para o ministério da saúde.
Decreto do Diário Oficial italiano de 9/03/2020 e Decreto de 8/03/202