
Eu me lembro da banana amassada com biscoito Maria esfarelado assim por cima. Minha vó fazia pra mim quando ia na casa dela. Fazia também um doce de banana que eu adorava! Só ela fazia daquele jeito. O doce ficava meio avermelhado. Não entendia como banana podia ficar vermelha, mas ficava. E era uma delícia!
Lembro também das vezes que meu pai nos levava a praia da Barra, indo pelo Alto da Boavista. Tinham aqueles carinhas vendendo banana ouro na estrada. Ele sempre comprava. A gente vomitava tudo por causa das curvas, mas nunca deixávamos de comer. Fazia pare do programa: A banana ouro e o vômito.
Na juventude, era vitamina de banana com aveia pra ficar forte. Aquela onda do “banana engorda e faz crescer”. A Rachel comia arroz, feijão e banana. A Thais adorava banana maçã. Cada um tinha um jeito de comer banana. Me lembro disso até hoje.
Mas meu primeiro choque cultural com a banana foi em Buenos Aires. Eu já era burro velho e fui num jantar de trabalho, super formal. Depois do jantar, uma das mulheres que estava com a gente pediu de sobremesa uma banana. Eu achei meio estranho. Esperava que ela pedisse tudo: sorvete, torta de chocolate, profiteroles, tudo! Menos banana. E ela ainda comeu de garfo e faca.
Mais tarde, fui me dando conta da versatilidade da banana. Nos Estados Unidos, é curiosa a relação do gringo com a banana. Eles construíram quilômetros e quilômetros de teleféricos nas ilhas do Caribe, de onde levam bananas penduradas por fios lá do interior das ilhas para os containers no cais do porto.
Lá mesmo, tomam um banho de soluções químicas pra matar os bichos e dar-lhes o toque final na aparência.
Vão penduradas por cabides, como a coleção outono-inverno da Gucci. De primeiríssima classe. Chegam aos supermercados parecendo de plástico.
Americano leva banana pro trabalho e pro teatro. A banana faz parte da dieta de alguns gringos, mas é assim meio exótica e sofisticada. Como cereja pra gente. Não é comida do povo.
Já na América Central, banana é preferência nacional.
Dá até rima! Faz parte do menu diário, daquela América nossa prima.
Em Cuba come-se arroz, feijão e banana todo dia. Por isso, que nosso Frango à Cubana, vem com banana à milanesa. – A Rachel ia adorar!
O chique lá em Paris, segundo o irmão da Cris, é tomar sorvete de banana às margens do Rio Sena vendo o por do sol, que no verão é lá pelas onze da noite.
Só pra testar um dia, pedi num hotel na Antuérpia, uma banana de sobremesa.
Veio Linda! Com morangos e kiwis coadjuvantes. Custou os olhos da cara! Mas olha, vou te dizer uma coisa:
Que me perdoem os morangos, os kiwis e os chefes de cozinha,
Mas ninguém no mundo faz banana, igual à da minha vozinha.
Antuérpia, 25 de Maio de 1997.