Hoje abro a porta. Não a porta da rua, a porta da leitura, das palavras, leio Clarice Lispector: 100 anos. E vem nas palavras de Maria Bethânia, ao lembrar de um show, de um poema lido, do aplauso de pé e grande frase “esse show não termina“. Com essa sensação, levo o gosto o som e pela rua e a alma vai cantando.
Dobro a esquina na minha leitura, o poema de Fernando Pessoa me encontra, me abraça, cochicha no meu ouvido e continua a descer a rua. Nas ladeiras, vejo Milton Nascimento, violão embaixo do braço, para na esquina, começa a cantar e o clube da esquina vai aumentando. Passo por eles. Como não cantarolar e o corpo sacudir? Que delícia, que presente para os meus ouvidos.
Ladeira abaixo, junto ao mar, encontro Vinícius, Dorival Caymmi, Tom, Chico e a música do mar, no balanço das ondas, eu me sento ao lado de Drummond para ouvir, entre versos, mais músicas e Chico canta:
O que será que será? Que todos os avisos não vão evitar. Por que todos os risos vão desafiar…
E assim a tarde se vai.